18/12/2010

A CASA DO TEMPO PERDIDO!


Bati no portão do tempo perdido, ninguém atendeu.
Bati segunda vez e mais outra e mais outra.
Resposta nenhuma.
A casa do tempo perdido está coberta de hera
pela metade; a outra metade é cinza.
Casa onde não mora ninguém, e eu batendo e chamando
pela dor de chamar e não ser escutado.
Simplesmente bater. O eco devolve
minha ânsia de entreabrir esses paços gelados.
À noite e o dia se confundem no esperar,
no bater e bater.
O tempo perdido certamente não existe.
É o casarão vazio e condenado.

AUTOR: Carlos Drummond de Andrade

16/12/2010

ESPREITO A JANELA DA ESPERANÇA


Espreito a janela da esperança
Um novo horizonte me acena
Com raios de luz nas suas mãos
E um sorriso no seu olhar.

Abro as portas da alma
Para que o ar fresco
E o sol radioso
Possa entrar
E assentar morada
Dentro do meu coração.

Espreito a janela da esperança
Para que um novo alento, entre
E dê ânimo
À minha desilusão.

Autor: Gil Moura

A CASA FANTASMA


A casa está morta?
Não: a casa é um fantasma,
um fantasma que sonha
com a sua porta de pesada aldrava,
com seus intermináveis corredores
que saíam a explorar no escuro os mistérios da noite
e que as luzes, por vezes,
enchiam de um lívido assombro...
Sim!
Agora
a casa está sonhando
com o seu pátio de meninos pássaros.
A casa escuta...Meu Deus! A casa está louca, ela não sabe
que em seu lugar se ergue um monstro de cimento e aço:
há sempre uma cidade dentro da outra
e esse eterno desentendimento entre o Espaço e o Tempo.
Casa que teimas em existir
a coitadinha da velha casa!
Eu também não consegui nunca afugentar meus pássaros

Autor: Mario Quintana